FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 2005. Aula de 17 de março de 1976, p. 285-315.

1. “Parece-me que um dos fenômenos fundamentais do século XIX é o que se poderia denominar a assunção da vida pelo poder: se vocês preferirem, uma tomada de poder sobre o homem enquanto ser vivo, uma espécie de estatização do biológico ou, pelo menos, uma certa inclinação que conduz ao que se poderia chamar de estatização do biológico.” (p. 285-286).

2. “Então, aí, topamos com coisas familiares: é que, nos séculos XVII e XVIII, viram-se aparecer técnicas de poder que eram essencialmente centradas no corpo, no corpo individual. Eram todos aqueles procedimentos pelos quais se assegurava a distribuição espacial dos corpos individuais (sua separação, seu alinhamento, sua colocação em série e em vigilância) e a organização, em torno desses corpos individuais, de todo um campo de visibilidade. Eram também as técnicas pelas quais se incumbiam desses corpos, tentavam aumentar-lhes a força útil através do exercício, do treinamento, etc.” (p. 288).

3. “Ora, durante a segunda metade do século XVIII, eu creio que se vê aparecer algo de novo, que é uma outra tecnologia de poder, não disciplinar dessa feita. Uma tecnologia de poder que não exclui a primeira, que não exclui a técnica disciplinar, mas que a embute, que a integra, que a modifica parcialmente e que, sobretudo, vai utilizá-la implantando-se de certo modo nela, e incrustando-se efetivamente graças a essa técnica disciplinar prévia. Essa nova técnica não suprime a técnica disciplinar simplesmente porque é de outro nível, está noutra escala, tem outra superfície de suporte e é auxiliada por instrumentos totalmente diferentes.” (p. 288-289).

4. “Mais precisamente, eu diria isto: a disciplina tenta reger a multiplicidade dos homens na medida em que essa multiplicidade pode e deve redundar em corpos individuais que devem ser vigiados, treinados, utilizados, eventualmente punidos. E, depois, a nova tecnologia que se instala se dirige à multiplicidade dos homens, não na medida em que eles se resumem em corpos, mas na medida em que ela forma, ao contrário, uma massa global, afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, que são processos como o nascimento, a morte, a produção, a doença, etc.” (p. 289).

5. “Eu lhes assinalo aqui, simplesmente, alguns dos pontos a partir dos quais se constituiu essa biopolítica, algumas de suas práticas e as primeiras das suas áreas de intervenção, de saber e de poder ao mesmo tempo: é da natalidade, da morbidade, das incapacidades biológicas diversas, dos efeitos do meio, é disso tudo que a biopolítica vai extrair seu saber e definir o campo de intervenção de seu poder.” (p. 292).

• Michel Foucault • Em defesa da sociedade [1. Cronologia e definição de biopoder] ( Download)
• Michel Foucault • Em defesa da sociedade [2. Caracterização do biopoder] ( Download)
• Foucault e o biopoder [Parte 1] ( Download)
• Foucault e o biopoder [Parte 2] ( Download)
• Foucault • Sexualidade e poder [Ditos e Escritos V] ( Download)
• Foucault: poder, biopolítica, discurso e outros tópicos #3 ( Download)
• Oswaldo Giacóia - Foucault, Nietzsche e o problema do poder ( Download)
• audiolivro - Michel Foucault - História da Loucura na Idade Clássica (14) ( Download)
• 30/05/22 - Ciência, tecnologia e ética - Ativ. 4 - Aula 4 - Foucault e o saber-poder ( Download)
• Seminário Subjetividade e Verdade - Limiares, deslocamentos e a critica radical do sujeito. ( Download)
• Foucault: 40 anos depois - Mesa 7 ( Download)
• Tópico Especial: os conceitos de sexo, arte, eros ( Download)
• Mesa 2 - AGAMBEN, ÉTICA E DIREITO ( Download)
• Diálogos filosóficos PPGFIL ( Download)
• Esquenta Expoente - Sociologia - Sociologia Contemporânea ( Download)